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Especial conquista! |
O grande dia acordou frio mas a anunciar um dia soalheiro.
Acordei cedo. Queria tomar o pequeno-almoço antes das 8h para não ter sobressaltos durante a prova. A ansiedade tomou conta de mim e estava agitadíssima.
A sala das refeições do Hotel Adelaide estava repleta de atletas. No ar sentia-se a expectativa dos estreantes e a confiança dos repetentes. Este ambiente turbinou o meu receio. E se o pé não aguentasse o esforço? Sabia que as subidas não eram doces para o meu calcanhar e as dúvidas surgiram em catadupa.
Durante os treinos, de quando em vez, ele dava sinal e o meu medo era mesmo ele não suportar o esforço nas subidas.
Tentei não pensar nisso e, logo que possível, desci à Vila. A temperatura rondava os 2 graus. Muito frio!! O Angelo Vidal, mais uma vez, prontificou-se a acompanhar-me para não esmorecer e, no caso de recidiva, não estar só.
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Ambiente atrás do pórtico |
Quando chegámos à avenida já se sentia a agitação dos preparativos para as diferentes partidas. Os atletas chegavam de todo o lado. À medida que circulava ia encontrando alguns conhecidos, incluindo o Joaquim Costa, também de Amarante, que se aventurou na Maratona. O António Miranda, dos Lousada Runners, o Fernando Fernandes que tinhamos conhecido na véspera, na Ermida. O Ricardo e o Carlos dos
Falta Muito? entre outras caras conhecidas...
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António Miranda |
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Fernando Fernandes e Angelo Vidal |
Deambulamos por ali e, de vez em quando dizia ao Angelo que só terminaria a prova bem perto das 3h. Achava que todos os presentes estavam preparados... menos eu!! Pois... o diabinho a apoderar-se de mim! Claro está que "levei logo nas orelhas". Libertei-me destes pensamentos e tentei absorver o máximo daquele calor e energia que emanava da cor dos equipamentos, do frenezim de reencontros, das gargalhadas nervosas mas felizes, dos rostos frios e ansiosos... Foi neste quadro que encontrei dois alunos meus que estavam a assistir. Uma injeção de alento. Não resisti e.. vamos à foto.
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sweet moment |
Entretanto surge a contagem decrescente para a maratona, 13 km e 1º segmento estafeta dos 42 kms.
Registei a partida!
Estava a chegar a nossa hora. Posicionados na direção inversa da maratona, tentamos descontrair um pouco, conversando com este e aquele, saltitando para espalhar o frio mas a ansiedade era brutal. No meio destas tentativas encontrei o
Vitor Dias, coordenador geral do
Correr Por Prazer. Mais uma troca de palavrinhas onde o tema era... corrida!
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Vitor Dias |
9h15m, arrancamos suavemente pela Vila abaixo e, nesse momento, todos os meus receios desvaneceram-se.
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Rua abaixo por António Cabral |
O ambiente era estrondosamente magnífico!
Os 2 km de descida serviram para um aquecimento antes de iniciar a imensa subida, rumo à aldeia da Ermida. Neste entretanto vejo o
António Cabral de bicicleta a chamar por mim. Mas a bicicleta ficou enciumada e zás... atirou com o António ao chão. Felizmente, não se magoou... mas fiquei preocupada :/
Começa a ascenção.
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Rua acima por Angelo Vidal |
Como não fui para sofrer, alternei corrida com caminhada ligeira nas zonas que exigiam mais. O Angelo não parava de tirar fotos e orientar o meu esforço.
À medida que conquistava kms deixei de pensar em possiveis dores para passar a absorver o explendor que me envolvia. Passei a correr com o coração. Sentir o Sol a aquecer o corpo, as cores de outono a pintar a alma e os parceiros de percurso a preencher o sorriso.
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Com Claudia Pinto |
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Daniela Barbosa |
Ao chegar à Ermida tive uma receção calorosa que me fez transbordar de alegria. Ouvi as vozes singelas de 2 alunos meus a dar "Força, professora Elisabete!" Arrepiei-me!!! Não resisti... e vamos à foto! Escutei-os mesmo quando já não me alcançavam à vista. Memorável!!
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Outro sweet moment |
Subir a calçada portuguesa dentro da aldeia foi outro ponto alto da prova. Magnifico!
Abastecimento com direito a fruta, marmelada, bolo, chá, isotónico, tostas... ingeri laranja, banana e um quadrado de marmelada. Ali já estavam agrupados alguns atletas. Seguimos mais ou menos juntos e orientamos as subidas entre corrida, caminhada ligeira, conversa e... fotografia.
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Oupa, vamos lá subir um pouco mais! |
Mas sabem o que mais me fascinou? Foi a paz transmitida por cada paisagem alcançada e da camaradagem que se viveu a cada metro percorrido. Não houve pressa em chegar. Houve vontade em sugar cada som, cada cheiro natural, cada raio de sol a aquecer a manta morta, a iluminar as folhas persistentes... tentar reter todo aquele encanto genuíno.
A Pedra Bela era já ali. Estavam conquistados os 600m de D
+ e mais de 800m em ganho de elevação. As subidas tinham terminado!
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Findou a subida! |
Último abastecimento antes da derradeira descida até à meta.
Assim que comecei a descer encontro outro aluno meu montado a cavalo. Não resisti a mais uma foto. Mais um alento a aquecer o coração.
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e mais um sweet moment |
6 kms a descer... siga! Olhei para o relógio e levava quase 2 horas de prova. Pormenor acessório naquele contexto. O Angelo estimou a chegada com 2h35m. Eu não pensei no assunto. Corri cuidadosamente para não estragar nada na parte final. Senti um gémeo cansadito. "Cuidado miúda, falta pouco e descer nem sempre é fácil!".
Embora atenta aos sinais do corpo, o coração não se desmarcava do painel de cores de outono. A sumptuosidade natural visualmente alcançada afagava cada passada e regulava o ritmo. Articulação espontanea entre o eu e a natureza! Sublime!
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Vamos à descida! |
Já se escutava o som do speaker e a música da meta. Faltava 1 km e já estava com saudades do monte e dos kms conquistados!
Cruzamo-nos com atletas que já tinham terminado e injetaram a última dose de motivação.
A meta estava ali! Senti um arrepio enorme e uma alegria imensa! O público estava muito calado e pedi palmas. Corri com o coração a transbordar de felicidade! Consegui!!
Meta transposta e um sorriso imenso! Olhei para o relógio, 2h 27m. Fantástico para quem esperava chegar bem perto das 3h. ;)
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Muito feliz! |
Tempos à parte, foi, indiscutivelmente, a prova mais bela que algum dia participei.
Foi um percurso difícil? Sim, foi, mas quando se corre com emoção e prazer tudo é mais fácil. Como descrevo esta prova? Mesmo usando todos os adjetivos e estabelecer belas comparações não é possível descrever o que é correr no Gerês. É algo que vem de dentro e se desmancha num permanente sorriso!
Correr no Gerês é correr com o coração!
Quanto à organização: Excelente! Parabéns Carlos Sá!
Em 2016 cá estarei!